quarta-feira, 23 de junho de 2010

Para uma moça no balcão...



Seu sorriso é lindo
E seu jeito delicado
Quem me dera nesta vida
Tê-la, um dia, a meu lado

Nesta vida há desejos
Muitos deles não realizados
Muitos deles, seu eu pudesse
Trocaria por um recado

Ela foi embora
Embora foi como dizias:
Um corpo belo, um rosto lindo
Que esquecerei em uns dias

Valeu a pena, alguém diria
Mesmo que não houve amor
Existiu, um dia, um momento
Que não tormento, mas dor

A perda de uma chance
Em que gastei tudo escrevendo
Tenho nada, só tempo
De expressar que está doendo...


Mauro Vieira (2002)

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Noite fria


Hoje... de fato
Nesta noite de lua em fuga
Sinto a dúvida, apesar do tato
Que o ânimo do peito suga
Por isso escondo-me feito um rato

Foi ela mesma! Quem diria...
Havia nela mais que encanto
Havia mais que descrevia
Era minha musa e, no entanto,
Não esperava que já tardia
Arrancar de mim amargo pranto

E, nesta noite, me vi chorando
Chorando estava por quem não via
Vi meu olhar, à porta, lhe esperando
Firmando a crença de que viria
Lhe vejo, em meu leito, me beijando
Me aquecendo nessa noite fria


Mauro Vieira (2000)

Anos psicodélicos


Poucas pessoas têm a chance de escrever sua história
pelo menos, tive a chance de contá-la
contá-la a mim mesmo, através de minhas mãos
deixando p'ra mim alegria, tristeza, vergonha e orgulho
amores que deixei, amores que vivi
amizades, inimigos, sonhos e loucuras
de uma vida repleta de mudanças e permanências
que me deixaram um tesouro p'ra esses dias.
Tesouro que se multiplica por mil vezes
p'ra quem sente por parte da memória
tesouro que me faz protagonista orgulhoso
de tantas decisões regadas pela emoção
por sentimentos que fluiam pelos significados
tornando a razão e os discursos instáveis.
Como na "Lira dos vinte anos" de Azevedo
vivi Penseroso que sofre e Macário que ama
atravessado pela fé, pela trajédia, pela juventude furiosa
e por amores que, ao extremo, me consumiam.
Tive o privilégio de ter a amizade de muitas pessoas
e de ser amado, quase mitologicamente, por outras.
Ah, vida... que tesouro!
Tesouro, este, que só pode ser apreciado
e degustado no seu mais delicioso teor
por quem escreve.


Mauro Vieira (2009)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Uma semente ao vento


Uma semente ao vento
Voando vai...
Segue por longa distância
e diz "uai?!"

Onde está o semeador?
Será que ele me ouviu?
Onde está o semeador?
Será que ele me ouviu?

O vento diz "não está longe!"
Se não sabes, está perto
Talvez, esteja meio surdo
Ou não esteja de peito aberto

Não fales longe!
Não fales perto!
Eu sou semente: careço água
Careço terra, careço afeto

Então, o que será de mim
Se sou palavra, se sou semente?
E quem será semeador
Nesse mundo decadente?

Venha comigo e não chores
Vamos ao Senhor da mece
Pedir que envie trabalhadores
P'ra este mundo que carece

Se ninguém quiser semeá-la
A palavra não será em vão
Pois, se os homens não falá-la
As pedras falarão

Texto para teatro
Poema de Mauro Vieira (2002)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O que VOCÊ quer colher?


O que você quer de verdade? Você teria uma resposta na ponta da língua?

Seria interessante obter de nós mesmos uma resposta clara, aplicarmos todas as teorias de focalização e irmos direto ao ponto: resolvendo o nosso problema e acabando com a ansiedade! Então, vamos para o primeiro ponto: obter nossa própria resposta!

Há um tempo atrás, conversava com uma amiga pela internet e reclamei que eu estava cansado de “plantar” nessa vida. Muitos de nós passam a vida inteira plantando, começando com cursos profissionalizantes na adolescência, seguindo por cursos técnicos, passando logo pelos cursos superiores e pós-graduações, chegando a mestrados e a doutorados... diante dessa reclamação, ela me perguntou “O que você quer colher?”

“Boa pergunta!”, respondi como se ficasse sem ar... o que você responderia?

Senti-me com respostas, mas não consegui canalizar nada para uma frase ou uma resposta simples. Bom, nada mais natural! Augusto Cury, na sua teoria de Inteligência Multifocal, discorre, em suas várias obras, que é impossível que haja um “eu” consciente tomando todas as decisões que executamos a cada momento; concluindo que existem vários “eu's” em nossa mente e que só parte “deles” está no consciente.

Baseando-nos nessa teoria, se formos construir juntos uma conclusão, poderíamos começar da auto-observação de que a minha e a sua dificuldade em responder a uma pergunta simples como esta venha do fato de que não queremos somente “uma” coisa. Por isso, não conseguimos exprimir tudo em uma única resposta! Diferentes vontades podem ocorrer em diferentes momentos ou simultaneamente, ou seja, convivemos com anseios concorrentes e, até mesmo, contraditórios.

Consultando a Palavra de Deus, podemos perceber pelo menos uma dualidade interna em nós humanos: os desejos da carne se opõem aos do Espírito (Gálatas 5:17). Paulo escreve aos romanos que “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço” (Romanos 7:19). Portanto, lidamos com diferentes vontades internas condicionadas aos mais variados momentos e ocasiões, além de estarmos inseridos numa atmosfera espiritual que nos expõe a diferentes forças; tais quais são, pelo menos, o tripé: luz-trevas-carne. Pode-se traduzir isso como a influência do Espírito Santo, a influência dos demônios e a nossa inclinação natural à satisfação de nossos próprios desejos e necessidades.

Onde fica, então, nosso poder de decisão? Podemos “querer” algo, de fato? Vamos explorar esse tema em outro artigo, mas é certo que nosso poder de decisão não é exercido, na realidade, dentro do sentido pleno da palavra “liberdade”. Podemos, então, concluir que podemos escolher o que daremos a nós mesmos dentre os nossos mais variados e inconstantes desejos. Isso tudo dentro do nosso tempo e da nossa realidade. Aqueles dois cegos de Jericó, como humanos, tinham vários desejos; no entanto, quando Jesus lhes perguntou “o que queres que eu vos faça?”, os cegos lhe responderam “Que nós enxerguemos!” (Mateus 20:32-33).

O que você escolheu para sua vida hoje?


Mauro Vieira (2010)
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